terça-feira, 6 de abril de 2021

MÍSTICA, MISTAGOGIA E LITURGIA: Por uma experiência mais vivencial

 O Povo de Deus – a Igreja – precisa sempre embeber-se do Mistério divino. Numa dinâmica mistagógica que possibilita sentir o sabor da fé e da vida nas celebrações litúrgicas. Este é um significativo passo para não se estagnar em um conhecimento puramente teórico do Crucificado/Ressuscitado. Sendo assim, se o homem não mergulha no Mistério de Deus, ele corre o risco de não responder à sua vocação batismal: ser um em-com-por Cristo. A linguagem da liturgia é a mistagogia! É um método condutor, vivo e dinâmico, que não deixa a espiritualidade da assembleia se embotar, nem perder seu brilho teológico e litúrgico.

Paralelamente, nota-se na atual conjuntura eclesial um ‘sentimento coletivo’ de “cansaço”. Muitas lideranças e agentes de pastorais se queixam da participação dos fiéis nas atividades comunitárias. Por muitas vezes, a assembleia se apresenta como “fria” e sem expressão ativa. Assim, os projetos não caminham, os membros de pastorais e movimentos conservam suas estruturas e não apresentam perspectivas de novas ações.

Direcionando um pouco mais o olhar em alguns aspectos da realidade eclesial, nota-se que também há ministros ordenados e coordenadores de pastorais/comunidades com sede e ânsia no trabalho paroquial/comunitário. Isso é louvável! No entanto, em contra partida, nestes intentos não há mística e nem mistagogia na espiritualidade. Sendo que, muitos são os carismas dentro da comunidade, mas sem a espiritualidade – que é o próprio Jesus Cristo – o carisma não se sustenta.

Wellistony (2013) apresenta uma questão pertinente frente a tudo isso: Os padres – e acrescento: os líderes e agentes de pastorais – precisam ser “místicos”. Atualmente, muitos leigos estão “avançando para águas mais profundas”. Estão procurando crescer e aprofundar a dimensão espiritual da vida. Enquanto isso, os responsáveis pelas comunidades estão ficando à margem vendo os “barcos” se distanciarem. Uma vez distantes, como novamente se aproximar quando se está em ‘alto mar’?!

Existem leigos sedentos, mas convém ressaltar que também há aqueles que não assumem um compromisso na comunidade. Muitos são os ministros ativos e conscientes, mas em contra partida, existem aqueles que entraram no modismo do “cansaço”. E estes, por sua vez, são um grupo significante. Não se justifica, mas, como exigir da comunidade se as próprias lideranças não experimentam o Mistério!? Como falar do Mistério se os próprios ministros não o vivencia?!

Karl Rahner parece estar certo quando afirmou que “no futuro o cristão ou será místico ou não será cristão”. Mas isso não exime a responsabilidade do leigo em agir de modo ativo, pleno e consciente sua própria vocação batismal. Se antes do Vaticano II os fiéis não participavam ativamente da divina liturgia porque o rito era em latim, era muito diferente da cultura local, porque o ministro se colocava distante do povo... E hoje, por que será?

Viver o Mistério também é acreditar em uma “liturgia contemplativa”, onde o interior dos fiéis se expressam na voz da assembleia. Acredito que quando os fiéis pedem uma missa diferente e animada, não é exatamente isso que querem dizer. Porque podem até celebrar uma missa ‘bem animada’ cheia de firulas, no entanto, provavelmente no próximo mês estarão pedindo outra coisa diferente... Quando os fiéis pedem algo assim, somente estão usando da linguagem que está ao seu alcance. Mas, na verdade, o que querem dizer é que faltam às celebrações um caráter místico e mistagógico, faltam sabor e vivacidade. A perfeita liturgia é só no Céu! Mas, quem disse que aqui na terra, em nossas celebrações litúrgicas, não podemos sentir o perfume do Céu?!

A intimidade pessoal com Deus gera na liturgia uma experiência coletiva que se manifestará na escuta da Palavra, no silêncio, nos cantos, na Eucaristia, na oração e na partilha. É preciso resgatar uma experiência pessoal na liturgia, longe do intimismo e do subjetivismo, propagado pelo materialismo e o secularismo do mundo. A mística não subtrai a ação, pelo contrário, quanto mais contemplativo for o fiel, mais eficaz será sua ação no seio eclesial.

Wallison Rodrigues

ATUALIZADA EM 25 MAR 2019

http://www.a12.com/redacaoa12/musica/mistica-mistagogia-e-liturgia-por-uma-experiencia-mais-vivencial

sexta-feira, 2 de abril de 2021

A História do Sábado Santo

 • O Sábado da Semana Santa, assim como a Sexta-feira, sempre foi considerado um dia alitúrgico. Neste dia a Igreja está em luto pela morte do Senhor, contemplando junto ao sepulcro o mistério da descida de Cristo à mansão dos mortos. Pela manhã se celebrava com os catecúmenos um rito preparatório ao Batismo e, à noite, a comunidade cristã se reunia para celebrar aquela que é considerada a mãe de todas as vigílias: a Vigília Pascal na Noite Santa.

• A Vigília Pascal inicialmente começava na noite do Sábado e só terminava ao nascer do Sol no Domingo, como atestado pelas Constituições Apostólicas do século IV. Por isso, a Missa celebrada no final da Vigília sempre foi considerada a própria Missa da Páscoa. Contudo, para favorecer a participação dos fieis, a Vigília foi sendo gradativamente antecipada ao longo dos séculos para a tarde e até mesmo para a manhã do sábado. Pio XII, em 1955, devolveu à Vigília o seu caráter noturno original.

• No início da Igreja se estabeleceu o número de doze leituras para esta Vigília, número este que sofreu várias oscilações ao longo dos século. Algumas leituras, a fim de expressar a universalidade da Igreja, eram lidas em língua grega. O elenco das leituras servia como preparação dos catecúmenos ao Batismo e, aos já batizados, de recordação da graça recebida no Batismo. Às leituras foram acrescidas orações e, posteriormente, salmos e cânticos.

• É igualmente muito antiga na celebração desta Vigília a bênção da fonte batismal, seguida da administração do Batismo aos catecúmenos. Segundo alguns autores, tal prática remonta ao Período Apostólico da Igreja. A fórmula para a bênção da água seguia a fórmula proposta por Tertuliano e ampliada por Santo Ambrósio (séc. IV): exorcismo (eliminação da influência demoníaca) e santificação ou epiclese (invocação da Santíssima Trindade). Ao longo dos séculos foram acrescidos a esta bênção vários sinais: sinal da cruz sobre a água, imersão do círio pascal e infusão dos santos óleos dos catecúmenos e do crisma.

• Terminadas as leituras, o bispo dirigia-se com os catecúmenos à fonte batismal, comumente fora da igreja. Enquanto isso, o povo permanecia na igreja, entoando repetidamente a Ladainha de Todos os Santos até que terminasse a bênção da fonte batismal e a administração do Batismo. Quando o bispo regressava com os neófitos já vestidos de branco, próximo da meia noite, entoava o Kyrie eleyson (Senhor, tende piedade de nós) e começava a Missa de Páscoa.

• Ao longo dos séculos outros elementos foram sendo acrescidos à Vigília Pascal, como a bênção do fogo novo. A princípio, acendia-se uma fogueira antes dos ofícios noturnos para iluminar o ambiente. Pouco a pouco, este gesto prático ganhou um significado litúrgico ligado à Ressurreição do Senhor, que é a verdadeira luz de nossa vida.

• A princípio as luzes da igreja e até mesmo das casas dos fieis eram apagadas durante a Sexta-feira, no chamado Ofício das Trevas. Para a celebração da Vigília Pascal, o fogo era novamente aceso pela fricção de uma pedra, símbolo de Cristo, pedra angular. Os fieis levavam pedaços de lenha para alimentar a fogueira feita no átrio da igreja e, terminada a Vigília, levavam novamente para suas casas estes pedaços de lenha acesos no fogo novo.

• Em Roma, a partir do século XII, são compostas orações de bênção da fogueira. Igualmente é composto nesta época um formulário para a bênção de cinco grãos de incenso, alusão às cinco chagas de Cristo, que são fixados no círio pascal em forma de cruz.

• Quanto ao círio pascal, era inicialmente um candelabro com três velas (trikyrion), símbolo da Santíssima Trindade, que eram acesas sucessivamente pelo diácono ao canto do Lumen Christi (Eis a luz de Cristo). Posteriormente, eram apresentados dois círios: um colocado junto ao altar, outro junto à pia batismal. Finalmente o círio foi reduzido a uma só vela, mas que se destacava pelo tamanho e decoração artística.

• O círio, símbolo do Cristo luz do mundo, era inicialmente abençoado por um diácono pois, na Igreja primitiva, cabia aos diáconos a responsabilidade pela iluminação da igreja. Por isso, na liturgia romana do século VIII era o primeiro em dignidade entre os diáconos (arquidiácono) que abençoava o círio, marcando nele uma cruz e acendendo-o no fogo novo. Seguia-se a tríplice aclamação “Lumen Christi” e o canto do Exultet, que remonta ao século V mas que só popularizou-se em Roma no século XI.

• Contudo, o uso dos diáconos abençoarem o círio foi reprovado por São Jerônimo (séc. IV), uma vez que foram constatados muitos abusos. Com efeito, vários diáconos alteravam o texto do Exultet, acrescentando-lhe versos improvisados e mesmo copiados de textos pagãos.

• Igualmente, até o século X, o círio pascal acabada a Vigília era fragmentado e cada fiel levava um pedaço de cera para casa. Apenas na Idade Média iniciou-se o costume de conservar o círio até a solenidade da Ascensão, quando então era derretido e transformado em medalhões de cera, que eram distribuídos entre os fieis.

• Após o rito da luz, da proclamação da Palavra de Deus e da administração do Batismo, iniciava-se a Missa da Páscoa propriamente dita. Até o século XI, este era o único dia do ano em que o presbítero podia cantar o Glória, que nas demais ocasiões era restrito ao bispo. Este canto do Glória, segundo o costume da Inglaterra, era acompanhado pelo toque festivo dos sinos.

• A Vigília Pascal desenvolve-se em quatro momentos que progressivamente vão inserindo-nos no mistério da Ressurreição: a Liturgia da Luz, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Batismal e a Liturgia Eucarística. Tais ritos devem ser vistos em perfeita unidade, culminando na celebração da Eucaristia, que torna o Cristo Ressuscitado verdadeiramente presente no meio de nós.

• O primeiro momento da Vigília Pascal é a Liturgia da Luz. Este rito recorda-nos que Cristo é a luz do mundo e que, com sua Ressurreição, comunica-nos esta luz. O círio pascal é o sinal de Cristo, luz que vence as trevas e ilumina os nossos corações. O círio que guia a procissão dos fieis para dentro da igreja é, ao mesmo tempo, sinal da coluna de fogo que guiou o povo de Israel na saída do Egito (Antiga Páscoa) e de Cristo que, com sua Ressurreição, guia-nos à vida eterna (Nova Páscoa). A Liturgia da Luz encerra-se com o canto do Precônio Pascal, antiquíssimo hino que exalta as maravilhas operadas por Deus ao longo da história da salvação e que culminaram na noite da Páscoa de Cristo.

• Esta proclamação da ação de Deus na história da salvação é continuada na Liturgia da Palavra. O elenco de leituras proposto nesta celebração quer conduzir-nos ao longo de toda a história da salvação, a fim de compreendermos que todas as obras de Deus em favor de seu povo culminaram na ação salvífica operada por Jesus Cristo em sua Morte e Ressureição.

• Para esta celebração propõem-se nove leituras, sete do Antigo Testamento e duas do Novo. Por razões pastorais, podem-se omitir algumas leituras do Antigo Testamento. Considere-se, porém, que proclamação da Palavra de Deus é um elemento central nesta Vigília, o que é evidenciado pelo cântico de salmos e pela recitação das orações que seguem as leituras.

• A terceira parte da Vigília é a Liturgia Batismal. São Paulo apresenta-nos a teologia do Batismo como imersão na Morte de Cristo e recepção de uma nova vida em sua Ressurreição. Assim, desde o início da Igreja o Batismo é considerado o “sacramento pascal”, “sacramento da ressurreição”.

• O centro deste rito é a fonte batismal, de onde será abençoada a água para a administração deste sacramento. A água, sob a qual é invocada a força do Espírito Santo, aparece em toda a história da salvação como sinal da graça de Deus, que renova e santifica.

• Onde for possível, nesta celebração administrem-se os Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia) aos catecúmenos, que se prepararam durante todo o período quaresmal. A Vigília Pascal é o momento mais adequado para receber tais sacramentos, os quais configuram-nos ao Cristo Morto e Ressuscitado.

• Os que professaram sua - Período Pascal fé são chamados a tomar parte na quarta parte da Vigília Pascal: a Liturgia Eucarística. Com efeito, tudo o que a Igreja celebra ao longo de todo o ano converge para esta Eucaristia e dela recebe sua força. Esta Celebração Eucarística é o primeiro momento do dia da Ressurreição, a grande ação de graças ao Pai por nos ter dado Cristo morto e ressuscitado.

• A celebração da Eucaristia torna o Cristo Ressuscitado presente no meio de nós. Já não é mais o Cristo que oferece a si mesmo por nós, mas somos nós que renovamos juntamente com Ele sua entrega e glorificação.

Fonte: http://www.ipascomnet.com/paroquia/inc.download/09042014093348FORMACAO_LITURGICA.PDF

quinta-feira, 18 de março de 2021

CARTA APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO POR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ COMO PADROEIRO UNIVERSAL DA IGREJA

 CARTA APOSTÓLICA

PATRIS CORDE

DO PAPA FRANCISCO

POR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO
DA DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ
COMO PADROEIRO UNIVERSAL DA IGREJA

 

Com coração de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como «o filho de José».[1]

Os dois evangelistas que puseram em relevo a sua figura, Mateus e Lucas, narram pouco, mas o suficiente para fazer compreender o género de pai que era e a missão que a Providência lhe confiou.

Sabemos que era um humilde carpinteiro (cf. Mt 13, 55), desposado com Maria (cf. Mt 1, 18; Lc 1, 27); um «homem justo» (Mt 1, 19), sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei (cf. Lc 2, 22.27.39) e através de quatro sonhos (cf. Mt 1, 20; 2, 13.19.22). Depois duma viagem longa e cansativa de Nazaré a Belém, viu o Messias nascer num estábulo, «por não haver lugar para eles» (Lc 2, 7) noutro sítio. Foi testemunha da adoração dos pastores (cf. Lc 2, 8-20) e dos Magos (cf. Mt 2, 1-12), que representavam respetivamente o povo de Israel e os povos pagãos.

Teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome revelado pelo anjo: dar-Lhe-ás «o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1, 21). Entre os povos antigos, como se sabe, dar o nome a uma pessoa ou a uma coisa significava conseguir um título de pertença, como fez Adão na narração do Génesis (cf. 2, 19-20).

No Templo, quarenta dias depois do nascimento, José – juntamente com a mãe – ofereceu o Menino ao Senhor e ouviu, surpreendido, a profecia que Simeão fez a respeito de Jesus e Maria (cf. Lc 2, 22-35). Para defender Jesus de Herodes, residiu como forasteiro no Egito (cf. Mt 2, 13-18). Regressado à pátria, viveu no recôndito da pequena e ignorada cidade de Nazaré, na Galileia – donde (dizia-se) «não sairá nenhum profeta» (Jo 7, 52), nem «poderá vir alguma coisa boa» (Jo 1, 46) –, longe de Belém, a sua cidade natal, e de Jerusalém, onde se erguia o Templo. Foi precisamente durante uma peregrinação a Jerusalém que perderam Jesus (tinha ele doze anos) e José e Maria, angustiados, andaram à sua procura, acabando por encontrá-Lo três dias mais tarde no Templo discutindo com os doutores da Lei (cf. Lc 2, 41-50).

Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo. Os meus antecessores aprofundaram a mensagem contida nos poucos dados transmitidos pelos Evangelhos para realçar ainda mais o seu papel central na história da salvação: o Beato Pio IX declarou-o «Padroeiro da Igreja Católica»,[2] o Venerável Pio XII apresentou-o como «Padroeiro dos operários»;[3] e São João Paulo II, como «Guardião do Redentor».[4] O povo invoca-o como «padroeiro da boa morte».[5]

Assim ao completarem-se 150 anos da sua declaração como Padroeiro da Igreja Católica, feita pelo Beato Pio IX a 8 de dezembro de 1870, gostaria de deixar «a boca – como diz Jesus – falar da abundância do coração» (Mt 12, 34), para partilhar convosco algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós. Tal desejo foi crescendo ao longo destes meses de pandemia em que pudemos experimentar, no meio da crise que nos afeta, que «as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiras e enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. (…) Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos».[6] Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles, dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão.

1. Pai amado

A grandeza de São José consiste no facto de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. Como tal, afirma São João Crisóstomo, «colocou-se inteiramente ao serviço do plano salvífico».[7]

São Paulo VI faz notar que a sua paternidade se exprimiu, concretamente, «em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em ter usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua vocação humana ao amor doméstico na oblação sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as capacidades no amor colocado ao serviço do Messias nascido na sua casa».[8]

Por este seu papel na história da salvação, São José é um pai que foi sempre amado pelo povo cristão, como prova o facto de lhe terem sido dedicadas numerosas igrejas por todo o mundo; de muitos institutos religiosos, confrarias e grupos eclesiais se terem inspirado na sua espiritualidade e adotado o seu nome; e de, há séculos, se realizarem em sua honra várias representações sacras. Muitos Santos e Santas foram seus devotos apaixonados, entre os quais se conta Teresa de Ávila que o adotou como advogado e intercessor, recomendando-se instantemente a São José e recebendo todas as graças que lhe pedia; animada pela própria experiência, a Santa persuadia os outros a serem igualmente devotos dele.[9]

Em todo o manual de orações, há sempre alguma a São José. São-lhe dirigidas invocações especiais todas as quartas-feiras e, de forma particular, durante o mês de março inteiro, tradicionalmente dedicado a ele.[10]

A confiança do povo em São José está contida na expressão «ite ad Joseph», que faz referência ao período de carestia no Egito, quando o povo pedia pão ao Faraó e ele respondia: «Ide ter com José; fazei o que ele vos disser» (Gn 41, 55). Tratava-se de José, filho de Jacob, que acabara vendido, vítima da inveja dos seus irmãos (cf. Gn 37, 11-28); e posteriormente – segundo a narração bíblica – tornou-se vice-rei do Egito (cf. Gn 41, 41-44).

Enquanto descendente de David (cf. Mt 1, 16.20), de cuja raiz deveria nascer Jesus segundo a promessa feita ao rei pelo profeta Natan (cf. 2 Sam 7), e como esposo de Maria de Nazaré, São José constitui a dobradiça que une o Antigo e o Novo Testamento.

2. Pai na ternura

Dia após dia, José via Jesus crescer «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4).

Jesus viu a ternura de Deus em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem» (Sal 103, 13).

Com certeza, José terá ouvido ressoar na sinagoga, durante a oração dos Salmos, que o Deus de Israel é um Deus de ternura,[11] que é bom para com todos e «a sua ternura repassa todas as suas obras» (Sal 145, 9).

A história da salvação realiza-se, «na esperança para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18), através das nossas fraquezas. Muitas vezes pensamos que Deus conta apenas com a nossa parte boa e vitoriosa, quando, na verdade, a maior parte dos seus desígnios se cumpre através e apesar da nossa fraqueza. Isto mesmo permite a São Paulo dizer: «Para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. A esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele respondeu-me: “Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza”» (2 Cor 12, 7-9).

Se esta é a perspetiva da economia da salvação, devemos aprender a aceitar, com profunda ternura, a nossa fraqueza.[12]

O Maligno faz-nos olhar para a nossa fragilidade com um juízo negativo, ao passo que o Espírito trá-la à luz com ternura. A ternura é a melhor forma para tocar o que há de frágil em nós. Muitas vezes o dedo em riste e o juízo que fazemos a respeito dos outros são sinal da incapacidade de acolher dentro de nós mesmos a nossa própria fraqueza, a nossa fragilidade. Só a ternura nos salvará da obra do Acusador (cf. Ap 12, 10). Por isso, é importante encontrar a Misericórdia de Deus, especialmente no sacramento da Reconciliação, fazendo uma experiência de verdade e ternura. Paradoxalmente, também o Maligno pode dizer-nos a verdade, mas, se o faz, é para nos condenar. Entretanto nós sabemos que a Verdade vinda de Deus não nos condena, mas acolhe-nos, abraça-nos, ampara-nos, perdoa-nos. A Verdade apresenta-se-nos sempre como o Pai misericordioso da parábola (cf. Lc 15, 11-32): vem ao nosso encontro, devolve-nos a dignidade, levanta-nos, ordena uma festa para nós, dando como motivo que «este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado» (Lc 15, 24).

A vontade de Deus, a sua história e o seu projeto passam também através da angústia de José. Assim ele ensina-nos que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza. E ensina-nos que, no meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de deixar a Deus o timão da nossa barca. Por vezes queremos controlar tudo, mas o olhar d’Ele vê sempre mais longe.

3. Pai na obediência

De forma análoga a quanto fez Deus com Maria, manifestando-Lhe o seu plano de salvação, também revelou a José os seus desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os povos antigos, eram considerados um dos meios pelos quais Deus manifesta a sua vontade.[13]

José sente uma angústia imensa com a gravidez incompreensível de Maria: mas não quer «difamá-la»,[14] e decide «deixá-la secretamente» (Mt 1, 19). No primeiro sonho, o anjo ajuda-o a resolver o seu grave dilema: «Não temas receber Maria, tua esposa, pois o que Ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1, 20-21). A sua resposta foi imediata: «Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo» (Mt 1, 24). Com a obediência, superou o seu drama e salvou Maria.

No segundo sonho, o anjo dá esta ordem a José: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar» (Mt 2, 13). José não hesitou em obedecer, sem se questionar sobre as dificuldades que encontraria: «E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes» (Mt 2, 14-15).

No Egito, com confiança e paciência, José esperou do anjo o aviso prometido para voltar ao seu país. Logo que o mensageiro divino, num terceiro sonho – depois de o informar que tinham morrido aqueles que procuravam matar o menino –, lhe ordena que se levante, tome consigo o menino e sua mãe e regresse à terra de Israel (cf. Mt 2, 19-20), de novo obedece sem hesitar: «Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel» (Mt 2, 21).

Durante a viagem de regresso, porém, «tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Então advertido em sonhos – e é a quarta vez que acontece – retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré» (Mt 2, 22-23).

Por sua vez, o evangelista Lucas refere que José enfrentou a longa e incómoda viagem de Nazaré a Belém, devido à lei do imperador César Augusto relativa ao recenseamento, que impunha a cada um registar-se na própria cidade de origem. E foi precisamente nesta circunstância que nasceu Jesus (cf. 2, 1-7), sendo inscrito no registo do Império, como todos os outros meninos.

São Lucas, de modo particular, tem o cuidado de assinalar que os pais de Jesus observavam todas as prescrições da Lei: os ritos da circuncisão de Jesus, da purificação de Maria depois do parto, da oferta do primogénito a Deus (cf. 2, 21-24).[15]

Em todas as circunstâncias da sua vida, José soube pronunciar o seu «fiat», como Maria na Anunciação e Jesus no Getsémani.

Na sua função de chefe de família, José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2, 51), segundo o mandamento de Deus (cf. Ex 20, 12).

Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, Ele aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade torna-se o seu alimento diário (cf. Jo 4, 34). Mesmo no momento mais difícil da sua vida, vivido no Getsémani, preferiu que se cumprisse a vontade do Pai, e não a sua,[16] fazendo-Se «obediente até à morte (…) de cruz» (Flp 2, 8). Por isso, o autor da Carta aos Hebreus conclui que Jesus «aprendeu a obediência por aquilo que sofreu» (5, 8).

Vê-se, a partir de todas estas vicissitudes, que «José foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação».[17]

4. Pai no acolhimento

José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo. «Anobreza do seu coração fá-lo subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus ajudou-o a escolher iluminando o seu discernimento».[18]

Na nossa vida, muitas vezes sucedem coisas, cujo significado não entendemos. E a nossa primeira reação, frequentemente, é de desilusão e revolta. Diversamente, José deixa de lado os seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misterioso que possa aparecer a seus olhos, acolhe-o, assume a sua responsabilidade e reconcilia-se com a própria história. Se não nos reconciliarmos com a nossa história, não conseguiremos dar nem mais um passo, porque ficaremos sempre reféns das nossas expectativas e consequentes desilusões.

A vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe. Só a partir deste acolhimento, desta reconciliação, é possível intuir também uma história mais excelsa, um significado mais profundo. Parecem ecoar as palavras inflamadas de Job, quando, desafiado pela esposa a rebelar-se contra todo o mal que lhe está a acontecer, responde: «Se recebemos os bens da mão de Deus, não aceitaremos também os males?» (Job 2, 10).

José não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte. O acolhimento é um modo pelo qual se manifesta, na nossa vida, o dom da fortaleza que nos vem do Espírito Santo. Só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões.

A vinda de Jesus ao nosso meio é um dom do Pai, para que cada um se reconcilie com a carne da sua história, mesmo quando não a compreende totalmente.

O que Deus disse ao nosso Santo – «José, Filho de David, não temas…» (Mt 1, 20) –, parece repeti-lo a nós também: «Não tenhais medo!» É necessário deixar de lado a ira e a desilusão para – movidos não por qualquer resignação mundana, mas com uma fortaleza cheia de esperança – dar lugar àquilo que não escolhemos e, todavia, existe. Acolher a vida desta maneira introduz-nos num significado oculto. A vida de cada um de nós pode recomeçar miraculosamente, se encontrarmos a coragem de a viver segundo aquilo que nos indica o Evangelho. E não importa se tudo parece ter tomado já uma direção errada, e se algumas coisas já são irreversíveis. Deus pode fazer brotar flores no meio das rochas. E mesmo que o nosso coração nos censure de qualquer coisa, Ele «é maior que o nosso coração e conhece tudo» (1 Jo 3, 20).

Reaparece aqui o realismo cristão, que não deita fora nada do que existe. A realidade, na sua misteriosa persistência e complexidade, é portadora dum sentido da existência com as suas luzes e sombras. É isto que leva o apóstolo Paulo a dizer: «Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28). E Santo Agostinho acrescenta: tudo, «incluindo aquilo que é chamado mal».[19] Nesta perspetiva global, a fé dá significado a todos os acontecimentos, sejam eles felizes ou tristes.

Assim, longe de nós pensar que crer signifique encontrar fáceis soluções consoladoras. Antes, pelo contrário, a fé que Cristo nos ensinou é a que vemos em São José, que não procura atalhos, mas enfrenta de olhos abertos aquilo que lhe acontece, assumindo pessoalmente a responsabilidade por isso.

O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sal 68, 6) e manda amar o forasteiro.[20] Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32).

5. Pai com coragem criativa

Se a primeira etapa de toda a verdadeira cura interior é acolher a própria história, ou seja, dar espaço no nosso íntimo até mesmo àquilo que não escolhemos na nossa vida, convém acrescentar outra caraterística importante: a coragem criativa. Esta vem ao de cima sobretudo quando se encontram dificuldades. Com efeito, perante uma dificuldade, pode-se estacar e abandonar o campo, ou tentar vencê-la de algum modo. Às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter.

Frequentemente, ao ler os «Evangelhos da Infância», apetece-nos perguntar por que motivo Deus não interveio de forma direta e clara. Porque Deus intervém por meio de acontecimentos e pessoas: José é o homem por meio de quem Deus cuida dos primórdios da história da redenção; é o verdadeiro «milagre», pelo qual Deus salva o Menino e sua mãe. O Céu intervém, confiando na coragem criativa deste homem que, tendo chegado a Belém e não encontrando alojamento onde Maria possa dar à luz, arranja um estábulo e prepara-o de modo a tornar-se o lugar mais acolhedor possível para o Filho de Deus, que vem ao mundo (cf. Lc 2, 6-7). Face ao perigo iminente de Herodes, que quer matar o Menino, de novo em sonhos José é alertado para O defender e, no coração da noite, organiza a fuga para o Egito (cf. Mt 2, 13-14).

Numa leitura superficial destas narrações, a impressão que se tem é a de que o mundo está à mercê dos fortes e poderosos, mas a «boa notícia» do Evangelho consiste precisamente em mostrar como, não obstante a arrogância e a violência dos dominadores terrenos, Deus encontra sempre a forma de realizar o seu plano de salvação. Às vezes também a nossa vida parece à mercê dos poderes fortes, mas o Evangelho diz-nos que Deus consegue sempre salvar aquilo que conta, desde que usemos a mesma coragem criativa do carpinteiro de Nazaré, o qual sabe transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência.

Se, em determinadas situações, parece que Deus não nos ajuda, isso não significa que nos tenha abandonado, mas que confia em nós com aquilo que podemos projetar, inventar, encontrar.

Trata-se da mesma coragem criativa demonstrada pelos amigos do paralítico que, desejando levá-lo à presença de Jesus, fizeram-no descer pelo teto (cf. Lc 5, 17-26). A dificuldade não deteve a audácia e obstinação daqueles amigos. Estavam convencidos de que Jesus podia curar o doente e, «não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao teto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus. Vendo a fé daqueles homens, disse: “Homem, os teus pecados estão perdoados”» (5, 19-20). Jesus reconhece a fé criativa com que aqueles homens procuram trazer-Lhe o seu amigo doente.

O Evangelho não dá informações relativas ao tempo que Maria, José e o Menino permaneceram no Egito. Mas certamente tiveram de comer, encontrar uma casa, um emprego. Não é preciso muita imaginação para colmatar o silêncio do Evangelho a tal respeito. A Sagrada Família teve que enfrentar problemas concretos, como todas as outras famílias, como muitos dos nossos irmãos migrantes que ainda hoje arriscam a vida acossados pelas desventuras e a fome. Neste sentido, creio que São José seja verdadeiramente um padroeiro especial para quantos têm que deixar a sua terra por causa das guerras, do ódio, da perseguição e da miséria.

No fim de cada acontecimento que tem José como protagonista, o Evangelho observa que ele se levanta, toma consigo o Menino e sua mãe e faz o que Deus lhe ordenou (cf. Mt 1, 24; 2, 14.21). Com efeito, Jesus e Maria, sua mãe, são o tesouro mais precioso da nossa fé.[21]

No plano da salvação, o Filho não pode ser separado da Mãe, d’Aquela que «avançou pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz».[22]

Sempre nos devemos interrogar se estamos a proteger com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, ao nosso cuidado, à nossa guarda. O Filho do Todo-Poderoso vem ao mundo, assumindo uma condição de grande fragilidade. Necessita de José para ser defendido, protegido, cuidado e criado. Deus confia neste homem, e o mesmo faz Maria que encontra em José aquele que não só Lhe quer salvar a vida, mas sempre A sustentará a Ela e ao Menino. Neste sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história e ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria.[23] José, continuando a proteger a Igreja, continua a proteger o Menino e sua mãe; e também nós, amando a Igreja, continuamos a amar o Menino e sua mãe.

Este Menino é Aquele que dirá: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Assim, todo o necessitado, pobre, atribulado, moribundo, forasteiro, recluso, doente são «o Menino» que José continua a guardar. Por isso mesmo, São José é invocado como protetor dos miseráveis, necessitados, exilados, aflitos, pobres, moribundos. E pela mesma razão a Igreja não pode deixar de amar em primeiro lugar os últimos, porque Jesus conferiu-lhes a preferência ao identificar-Se pessoalmente com eles. De José, devemos aprender o mesmo cuidado e responsabilidade: amar o Menino e sua mãe; amar os Sacramentos e a caridade; amar a Igreja e os pobres. Cada uma destas realidades é sempre o Menino e sua mãe.

6. Pai trabalhador

Um aspeto que carateriza São José – e tem sido evidenciado desde os dias da primeira encíclica social, a Rerum novarum de Leão XIII – é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.

Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo.

O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família. Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento?

A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia. A crise do nosso tempo, que é económica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova «normalidade», em que ninguém seja excluído. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. A perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades. Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nos possamos comprometer até se dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!

7. Pai na sombra

O escritor polaco Jan Dobraczyński, no seu livro A Sombra do Pai,[24] narrou a vida de São José em forma de romance. Com a sugestiva imagem da sombra, apresenta a figura de José, que é, para Jesus, a sombra na terra do Pai celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele. Lembra o que Moisés dizia a Israel: «Neste deserto (…) vistes o Senhor, vosso Deus, conduzir-vos como um pai conduz o seu filho, durante toda a caminhada que fizeste até chegar a este lugar» (Dt 1, 31). Assim José exerceu a paternidade durante toda a sua vida.[25]

Não se nasce pai, torna-se tal... E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito.

Na sociedade atual, muitas vezes os filhos parecem ser órfãos de pai. A própria Igreja de hoje precisa de pais. Continua atual a advertência dirigida por São Paulo aos Coríntios: «Ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais» (1 Cor 4, 15); e cada sacerdote ou bispo deveria poder acrescentar como o Apóstolo: «Fui eu que vos gerei em Cristo Jesus, pelo Evangelho» (4, 15). E aos Gálatas diz: «Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós!» (Gl 4, 19).

Ser pai significa introduzir o filho na experiência da vida, na realidade. Não segurá-lo, nem prendê-lo, nem subjugá-lo, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir. Talvez seja por isso que a tradição, referindo-se a José, ao lado do apelido de pai colocou também o de «castíssimo». Não se trata duma indicação meramente afetiva, mas é a síntese duma atitude que exprime o contrário da posse. A castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiramente tal, quando é casto. O amor que quer possuir, acaba sempre por se tornar perigoso: prende, sufoca, torna infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto, deixando-o livre inclusive de errar e opor-se a Ele. A lógica do amor é sempre uma lógica de liberdade, e José soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida.

A felicidade de José não se situa na lógica do sacrifício de si mesmo, mas na lógica do dom de si mesmo. Naquele homem, nunca se nota frustração, mas apenas confiança. O seu silêncio persistente não inclui lamentações, mas sempre gestos concretos de confiança. O mundo precisa de pais, rejeita os dominadores, isto é, rejeita quem quer usar a posse do outro para preencher o seu próprio vazio; rejeita aqueles que confundem autoridade com autoritarismo, serviço com servilismo, confronto com opressão, caridade com assistencialismo, força com destruição. Toda a verdadeira vocação nasce do dom de si mesmo, que é a maturação do simples sacrifício. Mesmo no sacerdócio e na vida consagrada, requer-se este género de maturidade. Quando uma vocação matrimonial, celibatária ou virginal não chega à maturação do dom de si mesmo, detendo-se apenas na lógica do sacrifício, então, em vez de significar a beleza e a alegria do amor, corre o risco de exprimir infelicidade, tristeza e frustração.

A paternidade, que renuncia à tentação de decidir a vida dos filhos, sempre abre espaços para o inédito. Cada filho traz sempre consigo um mistério, algo de inédito que só pode ser revelado com a ajuda dum pai que respeite a sua liberdade. Um pai sente que completou a sua ação educativa e viveu plenamente a paternidade, apenas quando se tornou «inútil», quando vê que o filho se torna autónomo e caminha sozinho pelas sendas da vida, quando se coloca na situação de José, que sempre soube que aquele Menino não era seu: fora simplesmente confiado aos seus cuidados. No fundo, é isto mesmo que dá a entender Jesus quando afirma: «Na terra, a ninguém chameis “Pai”, porque um só é o vosso “Pai”, aquele que está no Céu» (Mt 23, 9).

Todas as vezes que nos encontramos na condição de exercitar a paternidade, devemos lembrar-nos que nunca é exercício de posse, mas «sinal» que remete para uma paternidade mais alta. Em certo sentido, estamos sempre todos na condição de José: sombra do único Pai celeste, que «faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus, e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores» (Mt 5, 45); e sombra que acompanha o Filho.

* * *

«Levanta-te, toma o menino e sua mãe» (Mt 2, 13): diz o anjo da parte de Deus a são José.

O objetivo desta carta apostólica é aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo.

Com efeito, a missão específica dos Santos não é apenas a de conceder milagres e graças, mas de interceder por nós diante de Deus, como fizeram Abraão[26] e Moisés,[27] como faz Jesus, «único mediador» (1 Tm 2, 5), que junto de Deus Pai é o nosso «advogado» (1 Jo 2, 1), «vivo para sempre, a fim de interceder por [nós]» (Heb 7, 25; cf. Rm 8, 34).

Os Santos ajudam todos os fiéis «a tender à santidade e perfeição do próprio estado».[28] A sua vida é uma prova concreta de que é possível viver o Evangelho.

À semelhança de Jesus que disse: «Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29), também os Santos são exemplos de vida que havemos de imitar. A isto nos exorta explicitamente São Paulo: «Rogo-vos, pois, que sejais meus imitadores» (1 Cor 4, 16).[29] O mesmo nos diz São José através do seu silêncio eloquente.

Estimulado com o exemplo de tantos Santos e Santas diante dos olhos, Santo Agostinho interrogava-se: «Então não poderás fazer o que estes e estas fizeram?» E, assim, chegou à conversão definitiva exclamando: «Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!»[30]

Só nos resta implorar, de São José, a graça das graças: a nossa conversão.

Dirijamos-lhe a nossa oração:

Salve, guardião do Redentor
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amen.

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, 8 de dezembro do ano de 2020, oitavo do meu pontificado.

Francisco

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Carta ao Povo de Deus - Ano de São José

 ANO DE SÃO JOSÉ: UM APELO DE DEUS PARA TODA A IGREJA

“Ó glorioso São José, a quem foi dado o poder de tornar possível as coisas humanamente impossíveis, vinde em nosso auxílio...”

Querido povo de Deus, estimadas lideranças leigas, religiosos (as), diáconos e padres de nossa Diocese de Cametá, dirijo-me a vocês com o coração envolvido pelos apelos deste tempo quaresmal, que nos chama a um mergulhar nas profundezas de nosso ser, pelas vias da humildade, a qual nos leva a reconhecer nossas falhas, como convite a mudar de vida, e ainda a perceber os dons concedidos por Deus para colocar a serviço da Comunidade.

Além disso, no próximo dia 19 de março, celebraremos São José, com muito fervor e compromisso de vivencia de suas virtudes, pois aos 08 de dezembro de 2020 o Papa Francisco, pela Carta Apostólica “PATRIS CORDE” = “COM CORAÇÃO DE PAI”, convocou toda a Igreja para o “ANO DE SÃO JOSÉ”, em comemoração pelos 150 anos do Decreto “Quemadmodum Deus”, do Papa Pio IX de 08 de dezembro de 1870, com o qual São José foi declarado Padroeiro Universal da Igreja Católica.

Nesse sentido, temos muitas possibilidades de, em meio aos sofrimentos sentidos pela pandemia da Covid-19, nos dedicarmos mais à oração, tendo tão poderoso intercessor, e também nos tornarmos mais solidários, sendo pessoas, a exemplo de São José, capazes de “transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência”, conforme nos afirma a “Patris Corde”.

Este Ano de São José se estenderá até 08 de dezembro de 2021. Por isso, animo a todas as nossas Paróquias e cada Comunidade Cristã a aprofundar cada vez mais nossa devoção a São José, através de orações, de estudos sobre a vida deste santo, à luz da Palavra de Deus, da leitura da Carta do Papa e, principalmente, olharmos o bonito e honesto coração cheio de criatividade do homem simples chamado José.

Que este Santo Guardião de nossa Igreja e famílias, que cuidou de Jesus e Maria, vele pelo mundo, sedento de saúde e paz. Não deixemos passar a graça deste Ano Santo para nós!

Abençoado Ano de São José para todo o povo de Deus da Diocese de Cametá, com a bênção de Deus Pai, Filho e Espírito Santo!

Cametá-PA, 17 de março de 2021.

Dom José Altevir da Silva, CSSp

Bispo Diocesano de Cametá

ORIENTAÇÕES PASTORAIS DADO AO AGRAVAMENTO DA COVID-19

 

ORIENTAÇÕES PASTORAIS DADO AO AGRAVAMENTO DA COVID-19

A Covid-19 é uma tragédia no Brasil e agora a situação está muito pior do que em 2020, por conta da nova variante do coronavírus P1, surgida em Manaus e espalhada para todo o Brasil. Essa variante P1, contamina um número maior de pessoas, e mais rapidamente; ela tem maior capacidade de se multiplicar, e com isso causa doenças graves em pessoas mais jovens. Ela consegue escapar da “imunidade”, e por isso pessoas que já tiveram a doença podem se contaminar novamente. A variante é altamente letal, ou seja, mata mais. É este o cenário que estamos vendo ao nosso redor nos dias de hoje, por isso protejam-se! Usem máscara reforçada quando saírem de casa, higienizem as mãos com sabão e/ou álcool em gel. Fiquem em casa, se puderem. Vacina, sim! Vacilo, não!

Como Igreja, alimentados pela força do Evangelho de Jesus Cristo, devemos ser os primeiros defensores da vida, e sem abalar a nossa fé, perseverar na esperança, mesmo em meio às tempestades. Deixemos um espaço privilegiado para Cristo no barco da vida, Nele encontramos bonança, calmaria e esperança!

No Estado do Pará, em certas localidades, a bandeira vermelha fora substituída pela preta. Para nós, o mais importante não são bandeiras, pois existe manipulação de dados para tal definição. As vidas dos nossos entes queridos que estão nos deixando, IMPORTAM! Neste contexto, a Diocese de Cametá, na pessoa de seu legítimo representante, Dom José Altevir, apresenta orientações com o intuito de que não sejamos cúmplices da proliferação do vírus, mas cuidadores da vida.

Seguem as orientações para as Comunidades Cristãs (C.C’s) que formam nossas 20 Paróquias:

  • Seja respeitado o limite máximo de pessoas estabelecido pelos decretos das autoridades municipais. Onde não houver regulamentações próprias, é importante dialogar com as autoridades competentes;
  • Sejam oferecidas, na medida do possível, maior número de celebrações, para que se tenham mais opções de horários de Missas;
  • As Igrejas devem disponibilizar para os fiéis álcool em gel ou álcool líquido 70% ou outro produto desinfetante (água e sabão), para uso obrigatório na entrada e saída da Igreja;
  • Caso necessário, deve-se disponibilizar inscrições e agendamentos para a participação nas celebrações através das secretarias paroquiais, preferencialmente por telefone ou por e-mail, ou ainda conforme a decisão do pároco;
  • Seja feita aferição da temperatura corporal, com termômetro eletrônico à distância dos fiéis. Se detectada temperatura superior a 37 graus, a entrada da pessoa não será autorizada, sendo orientada a procurar uma unidade de saúde para atendimento médico;
  • Na Igreja e demais dependências da paróquia/comunidade, é obrigatório o uso de máscara para todos, incluindo o celebrante, que só deve ser retirada no momento da Sagrada Comunhão;
  • Celebrantes e ministros da Sagrada Comunhão devem higienizar as mãos, antes e depois da distribuição da Eucaristia;
  • O presidente da celebração deve motivar os fiéis a dizer bem forte Amém, quando do altar mostrar a Hóstia e dizer: o Corpo de Cristo. A distribuição da Eucaristia deve ser em silêncio. Os fiéis estão sem máscara nesse momento, o que pode levar gotículas de saliva nas hóstias;
  • Sempre que possível, manter todos os ambientes com portas e janelas abertas, para que fiquem bem arejados;
  • Os bancos e cadeiras devem ser marcados para manter o distanciamento social;
  • A Igreja deve ser higienizada entre as celebrações. Os ambientes e bancos devem ser desinfetados com água sanitária ou álcool líquido 70%;
  • A Eucaristia deve ser recebida pelos fiéis nas mãos. E estes devem comungar na frente do sacerdote ou ministro. Continuam suspensas distribuição da Eucaristia diretamente na boca ou nas duas espécies;
  • Recomenda-se que todos os que pertencem ao grupo de risco, permaneçam em casa e acompanhem as celebrações pelos meios de comunicação;
  • Duração da celebração: Não deve passar de uma hora de tempo. Quem preside deve encurtar a homilia, não ultrapassando 15 minutos; os grupos de cantos devem diminuir os números de estrofes dos cânticos; aumentar o número de ministros da Santa Eucaristia, para agilizar o momento da Comunhão Eucarística;
  • Peço encarecidamente que sejam desvinculadas Adoração e Novenas da Santa Missa. Para diminuir o tempo das pessoas reunidas no mesmo ambiente;
  • Não utilizar folhetos, muito menos reaproveitá-los, nas celebrações posteriores. Os folhetos poderão ser distribuídos na saída para as famílias levarem para suas casas;
  • Evitar o compartilhamento de microfones. Caso não seja possível, higienizar de uma pessoa para outra na utilização do mesmo;
  • Continua suspenso o uso de incenso nas celebrações;
  • Que cada liderança motive as famílias a fortalecerem a Igreja Doméstica, utilizando todo material litúrgico fornecido, como Novenas, Liturgia Diária, Carta Apostólica Patris Corde (sobre São José Com Coração de Pai), a oração do terço em família, a leitura da Palavra de Deus.

Que todas as Comunidades, também as do interior, levem a sério as orientações dos Decretos de seus municípios.

Nos munícipios que por ventura entrarem em lockdown, nossas Paróquias devem respeitar e colaborar com o que for decretado pelas autoridades competentes. E nas cidades e Vilas que se torne agravante e ameaçador o avanço da Covid-19, o Pároco em comunhão com o bispo, tem autorização de designar a suspensão das celebrações e atividades presenciais.

DECRETO MUNICIPAL Nº 211/2021 de 16 DE MARÇO DE 2021.

Entra em vigor hoje, 17/03, a partir das 21h o Decreto supracitado, determinando LOCKDOWN NO MUNICÍPIO DE CAMETÁ.

Estabelece normas dispondo sobre a suspensão total de atividades não essenciais (lockdown), no âmbito do Município de Cametá, visando a contenção do avanço descontrolado da pandemia da COVID-19. Missas e atividades presenciais estão suspensas, em todas as comunidades neste município.

Cametá, 17 de março de 2021.

Bispo Diocesano de Cametá

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Orientações Diocesanas para Quarta-feira de Cinzas

 QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Trata-se de um dia muito importante na caminhada da Igreja, pois introduz precisamente os fiéis no mistério quaresmal. Quarenta dias depois, tendo participado de um verdadeiro processo de conversão, através da prática da oração, jejum e caridade, nos deparamos com a Páscoa e Ressurreição do Senhor, objetivo essencial da Quaresma.

Uma das frases no momento da imposição das cinzas serve de lembrete para nós: “Lembra-te que do pó vieste, e ao pó hás de voltar”. A cinza quer demonstrar justamente isso; mostrar nossa fragilidade humana diante da compaixão e misericórdia de Deus. É nesse diálogo, entre criatura e Criador que ocorre nossa verdadeira conversão.

A Quarta-feira de Cinzas leva-nos a visualizar a Quaresma, exatamente para que busquemos a conversão, busquemos o Senhor. A liturgia do tempo quaresmal mostra-nos a esmola, a oração e o jejum como princípios da Quaresma.

A própria Quarta-feira de Cinzas nos coloca dentro do mistério. É um tempo de muita conversão, de muita oração, de arrependimento, um tempo de voltarmos para Deus.

O ser humano precisa de momentos fortes para aprofundar suas opções de vida, necessita avaliar a sua caminhada à luz da Palavra de Deus e da oração.

As cinzas utilizadas na celebração são obtidas da queima dos ramos usados no Domingo de Ramos do ano anterior. Elas são sinal de humildade, recordando ao cristão a sua origem e o seu fim: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn 2,7); “até que te tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19).

ORIENTAÇÃO EM TEMPO DE PANDEMIA

Seguindo as orientações da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, do Vaticano, neste ano de pandemia, o rito da Missa das Cinzas vai sofrer duas pequenas alterações: a fórmula (texto) do Missal Romano será dita pelo sacerdote uma única vez, para todos, do altar, e não diante de cada fiel ao receber as cinzas; e sacerdotes e ministros deixarão cair as cinzas sobre a cabeça das pessoas, não fazendo a cruz de cinzas na testa dos fiéis.

“Eu vim para que todos tenham vida.” (Jo 10, 10).

Rezemos pelo fim da pandemia.
São José interceda por nós!
Dom José Altevir da Silva, CSSp
Bispo Diocesano de Cametá

Mensagem de Dom Altevir sobre a Quaresma

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2021

 MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO

PARA A QUARESMA DE 2021

 

«Vamos subir a Jerusalém...» (Mt 20, 18).
Quaresma: tempo para renovar fé, esperança e caridade.

 

Queridos irmãos e irmãs!

Jesus, ao anunciar aos discípulos a sua paixão, morte e ressurreição como cumprimento da vontade do Pai, desvenda-lhes o sentido profundo da sua missão e convida-os a associarem-se à mesma pela salvação do mundo.

Ao percorrer o caminho quaresmal que nos conduz às celebrações pascais, recordamos Aquele que «Se rebaixou a Si mesmo, tornando-Se obediente até à morte e morte de cruz» (Flp 2, 8). Neste tempo de conversão, renovamos a nossa fé, obtemos a «água viva» da esperança e recebemos com o coração aberto o amor de Deus que nos transforma em irmãos e irmãs em Cristo. Na noite de Páscoa, renovaremos as promessas do nosso Batismo, para renascer como mulheres e homens novos por obra e graça do Espírito Santo. Entretanto o itinerário da Quaresma, como aliás todo o caminho cristão, já está inteiramente sob a luz da Ressurreição que anima os sentimentos, atitudes e opções de quem deseja seguir a Cristo.

jejum, a oração e a esmola – tal como são apresentados por Jesus na sua pregação (cf. Mt 6, 1-18) – são as condições para a nossa conversão e sua expressão. O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa.

1. A fé chama-nos a acolher a Verdade e a tornar-nos suas testemunhas diante de Deus e de todos os nossos irmãos e irmãs

Neste tempo de Quaresma, acolher e viver a Verdade manifestada em Cristo significa, antes de mais, deixar-nos alcançar pela Palavra de Deus, que nos é transmitida de geração em geração pela Igreja. Esta Verdade não é uma construção do intelecto, reservada a poucas mentes seletas, superiores ou ilustres, mas é uma mensagem que recebemos e podemos compreender graças à inteligência do coração, aberto à grandeza de Deus, que nos ama ainda antes de nós próprios tomarmos consciência disso. Esta Verdade é o próprio Cristo, que, assumindo completamente a nossa humanidade, Se fez Caminho – exigente, mas aberto a todos – que conduz à plenitude da Vida.

O jejum, vivido como experiência de privação, leva as pessoas que o praticam com simplicidade de coração a redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas que, feitas à sua imagem e semelhança, n'Ele encontram plena realização. Ao fazer experiência duma pobreza assumida, quem jejua faz-se pobre com os pobres e «acumula» a riqueza do amor recebido e partilhado. O jejum, assim entendido e praticado, ajuda a amar a Deus e ao próximo, pois, como ensina São Tomás de Aquino, o amor é um movimento que centra a minha atenção no outro, considerando-o como um só comigo mesmo [cf. Enc. Fratelli tutti (= FT), 93].

A Quaresma é um tempo para acreditar, ou seja, para receber a Deus na nossa vida permitindo-Lhe «fazer morada» em nós (cf. Jo 14, 23)Jejuar significa libertar a nossa existência de tudo o que a atravanca, inclusive da saturação de informações – verdadeiras ou falsas – e produtos de consumo, a fim de abrirmos as portas do nosso coração Àquele que vem a nós pobre de tudo, mas «cheio de graça e de verdade» (Jo 1, 14): o Filho de Deus Salvador.

2. A esperança como «água viva», que nos permite continuar o nosso caminho

A samaritana, a quem Jesus pedira de beber junto do poço, não entende quando Ele lhe diz que poderia oferecer-lhe uma «água viva» (cf. Jo 4, 10-12); e, naturalmente, a primeira coisa que lhe vem ao pensamento é a água material, ao passo que Jesus pensava no Espírito Santo, que Ele dará em abundância no Mistério Pascal e que infunde em nós a esperança que não desilude. Já quando preanuncia a sua paixão e morte, Jesus abre à esperança dizendo que «ressuscitará ao terceiro dia» (Mt 20, 19). Jesus fala-nos do futuro aberto de par em par pela misericórdia do Pai. Esperar com Ele e graças a Ele significa acreditar que, a última palavra na história, não a têm os nossos erros, as nossas violências e injustiças, nem o pecado que crucifica o Amor; significa obter do seu Coração aberto o perdão do Pai.

No contexto de preocupação em que vivemos atualmente onde tudo parece frágil e incerto, falar de esperança poderia parecer uma provocação. O tempo da Quaresma é feito para ter esperança, para voltar a dirigir o nosso olhar para a paciência de Deus, que continua a cuidar da sua Criação, não obstante nós a maltratarmos com frequência (cf. Enc. Laudato si’32-33.43-44). É ter esperança naquela reconciliação a que nos exorta apaixonadamente São Paulo: «Reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20). Recebendo o perdão no Sacramento que está no centro do nosso processo de conversão, tornamo-nos, por nossa vez, propagadores do perdão: tendo-o recebido nós próprios, podemos oferecê-lo através da capacidade de viver um diálogo solícito e adotando um comportamento que conforta quem está ferido. O perdão de Deus, através também das nossas palavras e gestos, possibilita viver uma Páscoa de fraternidade.

Na Quaresma, estejamos mais atentos a «dizer palavras de incentivo, que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam, em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam» (FT, 223). Às vezes, para dar esperança, basta ser «uma pessoa amável, que deixa de lado as suas preocupações e urgências para prestar atenção, oferecer um sorriso, dizer uma palavra de estímulo, possibilitar um espaço de escuta no meio de tanta indiferença» (FT, 224).

No recolhimento e oração silenciosa, a esperança é-nos dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa missão; por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar (cf. Mt 6, 6) e encontrar, no segredo, o Pai da ternura.

Viver uma Quaresma com esperança significa sentir que, em Jesus Cristo, somos testemunhas do tempo novo em que Deus renova todas as coisas (cf. Ap 21, 1-6), «sempre dispostos a dar a razão da [nossa] esperança a todo aquele que [no-la] peça» (1 Ped 3, 15): a razão é Cristo, que dá a sua vida na cruz e Deus ressuscita ao terceiro dia.

3. A caridade, vivida seguindo as pegadas de Cristo na atenção e compaixão por cada pessoa, é a mais alta expressão da nossa fé e da nossa esperança

A caridade alegra-se ao ver o outro crescer; e de igual modo sofre quando o encontra na angústia: sozinho, doente, sem abrigo, desprezado, necessitado... A caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos gerando o vínculo da partilha e da comunhão.

«A partir do “amor social”, é possível avançar para uma civilização do amor a que todos nos podemos sentir chamados. Com o seu dinamismo universal, a caridade pode construir um mundo novo, porque não é um sentimento estéril, mas o modo melhor de alcançar vias eficazes de desenvolvimento para todos» (FT, 183).

A caridade é dom, que dá sentido à nossa vida e graças ao qual consideramos quem se encontra na privação como membro da nossa própria família, um amigo, um irmão. O pouco, se partilhado com amor, nunca acaba, mas transforma-se em reserva de vida e felicidade. Aconteceu assim com a farinha e o azeite da viúva de Sarepta, que oferece ao profeta Elias o bocado de pão que tinha (cf. 1 Rs 17, 7-16), e com os pães que Jesus abençoa, parte e dá aos discípulos para que os distribuam à multidão (cf. Mc 6, 30-44). O mesmo sucede com a nossa esmola, seja ela pequena ou grande, oferecida com alegria e simplicidade.

Viver uma Quaresma de caridade significa cuidar de quem se encontra em condições de sofrimento, abandono ou angústia por causa da pandemia de Covid-19. Neste contexto de grande incerteza quanto ao futuro, lembrando-nos da palavra que Deus dera ao seu Servo – «não temas, porque Eu te resgatei» (Is 43, 1) –, ofereçamos, juntamente com a nossa obra de caridade, uma palavra de confiança e façamos sentir ao outro que Deus o ama como um filho.

«Só com um olhar cujo horizonte esteja transformado pela caridade, levando-nos a perceber a dignidade do outro, é que os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura e, por conseguinte, verdadeiramente integrados na sociedade» (FT, 187).

Queridos irmãos e irmãs, cada etapa da vida é um tempo para crer, esperar e amar. Que este apelo a viver a Quaresma como percurso de conversão, oração e partilha dos nossos bens, nos ajude a repassar, na nossa memória comunitária e pessoal, a fé que vem de Cristo vivo, a esperança animada pelo sopro do Espírito e o amor cuja fonte inexaurível é o coração misericordioso do Pai.

Que Maria, Mãe do Salvador, fiel aos pés da cruz e no coração da Igreja, nos ampare com a sua solícita presença, e a bênção do Ressuscitado nos acompanhe no caminho rumo à luz pascal.

Roma, em São João de Latrão, na Memória de São Martinho de Tours, 11 de novembro de 2020.

 

Francisco

 



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