• O Sábado da Semana Santa, assim como a Sexta-feira, sempre foi considerado um dia alitúrgico. Neste dia a Igreja está em luto pela morte do Senhor, contemplando junto ao sepulcro o mistério da descida de Cristo à mansão dos mortos. Pela manhã se celebrava com os catecúmenos um rito preparatório ao Batismo e, à noite, a comunidade cristã se reunia para celebrar aquela que é considerada a mãe de todas as vigílias: a Vigília Pascal na Noite Santa.
• A Vigília Pascal inicialmente começava na noite do Sábado e só terminava ao nascer do Sol no Domingo, como atestado pelas Constituições Apostólicas do século IV. Por isso, a Missa celebrada no final da Vigília sempre foi considerada a própria Missa da Páscoa. Contudo, para favorecer a participação dos fieis, a Vigília foi sendo gradativamente antecipada ao longo dos séculos para a tarde e até mesmo para a manhã do sábado. Pio XII, em 1955, devolveu à Vigília o seu caráter noturno original.
• No início da Igreja se estabeleceu o número de doze leituras para esta Vigília, número este que sofreu várias oscilações ao longo dos século. Algumas leituras, a fim de expressar a universalidade da Igreja, eram lidas em língua grega. O elenco das leituras servia como preparação dos catecúmenos ao Batismo e, aos já batizados, de recordação da graça recebida no Batismo. Às leituras foram acrescidas orações e, posteriormente, salmos e cânticos.
• É igualmente muito antiga na celebração desta Vigília a bênção da fonte batismal, seguida da administração do Batismo aos catecúmenos. Segundo alguns autores, tal prática remonta ao Período Apostólico da Igreja. A fórmula para a bênção da água seguia a fórmula proposta por Tertuliano e ampliada por Santo Ambrósio (séc. IV): exorcismo (eliminação da influência demoníaca) e santificação ou epiclese (invocação da Santíssima Trindade). Ao longo dos séculos foram acrescidos a esta bênção vários sinais: sinal da cruz sobre a água, imersão do círio pascal e infusão dos santos óleos dos catecúmenos e do crisma.
• Terminadas as leituras, o bispo dirigia-se com os catecúmenos à fonte batismal, comumente fora da igreja. Enquanto isso, o povo permanecia na igreja, entoando repetidamente a Ladainha de Todos os Santos até que terminasse a bênção da fonte batismal e a administração do Batismo. Quando o bispo regressava com os neófitos já vestidos de branco, próximo da meia noite, entoava o Kyrie eleyson (Senhor, tende piedade de nós) e começava a Missa de Páscoa.
• Ao longo dos séculos outros elementos foram sendo acrescidos à Vigília Pascal, como a bênção do fogo novo. A princípio, acendia-se uma fogueira antes dos ofícios noturnos para iluminar o ambiente. Pouco a pouco, este gesto prático ganhou um significado litúrgico ligado à Ressurreição do Senhor, que é a verdadeira luz de nossa vida.
• A princípio as luzes da igreja e até mesmo das casas dos fieis eram apagadas durante a Sexta-feira, no chamado Ofício das Trevas. Para a celebração da Vigília Pascal, o fogo era novamente aceso pela fricção de uma pedra, símbolo de Cristo, pedra angular. Os fieis levavam pedaços de lenha para alimentar a fogueira feita no átrio da igreja e, terminada a Vigília, levavam novamente para suas casas estes pedaços de lenha acesos no fogo novo.
• Em Roma, a partir do século XII, são compostas orações de bênção da fogueira. Igualmente é composto nesta época um formulário para a bênção de cinco grãos de incenso, alusão às cinco chagas de Cristo, que são fixados no círio pascal em forma de cruz.
• Quanto ao círio pascal, era inicialmente um candelabro com três velas (trikyrion), símbolo da Santíssima Trindade, que eram acesas sucessivamente pelo diácono ao canto do Lumen Christi (Eis a luz de Cristo). Posteriormente, eram apresentados dois círios: um colocado junto ao altar, outro junto à pia batismal. Finalmente o círio foi reduzido a uma só vela, mas que se destacava pelo tamanho e decoração artística.
• O círio, símbolo do Cristo luz do mundo, era inicialmente abençoado por um diácono pois, na Igreja primitiva, cabia aos diáconos a responsabilidade pela iluminação da igreja. Por isso, na liturgia romana do século VIII era o primeiro em dignidade entre os diáconos (arquidiácono) que abençoava o círio, marcando nele uma cruz e acendendo-o no fogo novo. Seguia-se a tríplice aclamação “Lumen Christi” e o canto do Exultet, que remonta ao século V mas que só popularizou-se em Roma no século XI.
• Contudo, o uso dos diáconos abençoarem o círio foi reprovado por São Jerônimo (séc. IV), uma vez que foram constatados muitos abusos. Com efeito, vários diáconos alteravam o texto do Exultet, acrescentando-lhe versos improvisados e mesmo copiados de textos pagãos.
• Igualmente, até o século X, o círio pascal acabada a Vigília era fragmentado e cada fiel levava um pedaço de cera para casa. Apenas na Idade Média iniciou-se o costume de conservar o círio até a solenidade da Ascensão, quando então era derretido e transformado em medalhões de cera, que eram distribuídos entre os fieis.
• Após o rito da luz, da proclamação da Palavra de Deus e da administração do Batismo, iniciava-se a Missa da Páscoa propriamente dita. Até o século XI, este era o único dia do ano em que o presbítero podia cantar o Glória, que nas demais ocasiões era restrito ao bispo. Este canto do Glória, segundo o costume da Inglaterra, era acompanhado pelo toque festivo dos sinos.
• A Vigília Pascal desenvolve-se em quatro momentos que progressivamente vão inserindo-nos no mistério da Ressurreição: a Liturgia da Luz, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Batismal e a Liturgia Eucarística. Tais ritos devem ser vistos em perfeita unidade, culminando na celebração da Eucaristia, que torna o Cristo Ressuscitado verdadeiramente presente no meio de nós.
• O primeiro momento da Vigília Pascal é a Liturgia da Luz. Este rito recorda-nos que Cristo é a luz do mundo e que, com sua Ressurreição, comunica-nos esta luz. O círio pascal é o sinal de Cristo, luz que vence as trevas e ilumina os nossos corações. O círio que guia a procissão dos fieis para dentro da igreja é, ao mesmo tempo, sinal da coluna de fogo que guiou o povo de Israel na saída do Egito (Antiga Páscoa) e de Cristo que, com sua Ressurreição, guia-nos à vida eterna (Nova Páscoa). A Liturgia da Luz encerra-se com o canto do Precônio Pascal, antiquíssimo hino que exalta as maravilhas operadas por Deus ao longo da história da salvação e que culminaram na noite da Páscoa de Cristo.
• Esta proclamação da ação de Deus na história da salvação é continuada na Liturgia da Palavra. O elenco de leituras proposto nesta celebração quer conduzir-nos ao longo de toda a história da salvação, a fim de compreendermos que todas as obras de Deus em favor de seu povo culminaram na ação salvífica operada por Jesus Cristo em sua Morte e Ressureição.
• Para esta celebração propõem-se nove leituras, sete do Antigo Testamento e duas do Novo. Por razões pastorais, podem-se omitir algumas leituras do Antigo Testamento. Considere-se, porém, que proclamação da Palavra de Deus é um elemento central nesta Vigília, o que é evidenciado pelo cântico de salmos e pela recitação das orações que seguem as leituras.
• A terceira parte da Vigília é a Liturgia Batismal. São Paulo apresenta-nos a teologia do Batismo como imersão na Morte de Cristo e recepção de uma nova vida em sua Ressurreição. Assim, desde o início da Igreja o Batismo é considerado o “sacramento pascal”, “sacramento da ressurreição”.
• O centro deste rito é a fonte batismal, de onde será abençoada a água para a administração deste sacramento. A água, sob a qual é invocada a força do Espírito Santo, aparece em toda a história da salvação como sinal da graça de Deus, que renova e santifica.
• Onde for possível, nesta celebração administrem-se os Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia) aos catecúmenos, que se prepararam durante todo o período quaresmal. A Vigília Pascal é o momento mais adequado para receber tais sacramentos, os quais configuram-nos ao Cristo Morto e Ressuscitado.
• Os que professaram sua - Período Pascal fé são chamados a tomar parte na quarta parte da Vigília Pascal: a Liturgia Eucarística. Com efeito, tudo o que a Igreja celebra ao longo de todo o ano converge para esta Eucaristia e dela recebe sua força. Esta Celebração Eucarística é o primeiro momento do dia da Ressurreição, a grande ação de graças ao Pai por nos ter dado Cristo morto e ressuscitado.
• A celebração da Eucaristia torna o Cristo Ressuscitado presente no meio de nós. Já não é mais o Cristo que oferece a si mesmo por nós, mas somos nós que renovamos juntamente com Ele sua entrega e glorificação.
Fonte: http://www.ipascomnet.com/paroquia/inc.download/09042014093348FORMACAO_LITURGICA.PDF
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